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Amor-consolo, Amor-acalento

É preciso ser desavisado para pensar que viver é fácil. É preciso estar entregue às ofertas de excesso de gozo quase que 24/h para esquecer que a vida é crua, vil, angustiante, desertificada, árdua, sofrida, que é aquela faca cega que rasga nosso peito cotidianamente. Se isso não é drama, mas a realidade que você e eu sabemos, se não estivermos com a música tão alta que nos impeça de ouvir nossos próprios pensamentos, perguntamos: Temos saída disso para viver (bem)? Temos o amor.

Só se começa a enxergar o que é esse amor, de consolo, quando verificamos que ele não deve ser visto como o oposto do ódio (se amo, não odeio) – o amor está puramente do lado do bem.

Primeiramente porque ele nasce justamente por sermos faltantes, e isso por si só já o faz amargo. Buscamos no outro o que não temos e supomos que ele tenha.
Projetamos, colocamos expectativas e idealizamos.

O pobre do Narciso, que acha feio o que não é espelho, e ama apenas o que é, o que foi, o que gostaria de ser e o que faz parte dele, tem o desafio de amar o outro por sua diferença, e não semelhança, sem esperar – sempre em vão – ser completo por esse amor.

Quando nos deparamos com o amor, temos a impressão de ter encontrado algo que nos falta. Ainda digo com um pesar nostálgico que faltante somos e faltante permaneceremos.

Dentro da linguagem não há escapatória. Além do mais, jamais compreenderemos por completo o nosso amor, basicamente porque não somos. O amor serve para isso: tentar dar conta dessa falta e nos acalmar e acalentar quanto a condição humana.

Se até os poetas, seres que se dizem reles e também por isso são magníficos, escrevem para marcarem a sua falta, quem somos nós para não nos contentarmos com o amor?

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