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Depressão e superproteção

Superproteção – segundo Chorpita e Berlow é “envolvimento parental excessivo no controle do ambiente da criança par minimizar experiências aversivas para ela”.

Nos dias atuais é muito comum vermos famílias de classe média e média alta que, no afã de que seus filhos estejam inseridos no mundo global, proporcionam-lhes um mundo particular em seus quartos. As crianças passam a ter, restrito a seus quartos, todo conforto, ”diversão” e “comunicação” que possam almejar. Possuem em seu mundo particular TV, computador com internet, linha telefônica privativa, fora o celular, é claro. Ah, ainda tem o carro, tão cedo quanto possa dirigir. Aprendem a ver o mundo através de um intermediário. Não se relacionam no corpo a corpo sequer com os irmãos e, aí não aprendem a competir, se frustrar, perder e ganhar. Só ganham!

Os adolescentes interagem na escola e voltam correndo para em casa se falarem pela internet; saem para se divertir e encontram na lanhouse para jogar ou conversar. Com um universo pessoal tão pseudoabastado e satisfeito, deixa-se de maturar o relacionar-se e com ele aprender. Restritos a uma gaiola de ouro (mesmo quando os pais não podem, endividam-se para o filho não frustrar-se), com todos os utensílios à mão, não necessitam sair dela para buscar seu objeto de desejo. Sem objetivos para conquistar, a energia interna pela busca do prazer, estagna. Surge a depressão.

Podemos ver que as pessoas, junto com todos os efeitos colaterais do progresso, também estão deprimindo mais cedo. Quando a depressão não possui causa orgânica, caberia nos perguntar: - Qual o objetivo de nossos jovens? Estamos trabalhando sua autoestima? Antes almejava-se passar no vestibular e um emprego porque assim se teria um status, se compraria o primeiro carrinho, ou som; se teria acesso aos bens de consumo mais desejados. Hoje os jovens têm um carro como prêmio do vestibular (fazendo do mesmo um favor aos pais e não um dever e uma conquista), senão antes, aos 15/16 anos. Como a necessidade é a mãe do desejo e não há desejos não satisfeitos, os jovens não fazem contato com seus reais objetivos e necessidades de vida, e caem no vazio. Fecham-se em seus quartos, muitas vezes no escuro e, com o tempo passam a apresentar dificuldades de relacionamento, agressividade, namoros conturbados e sofridos, quando não violentos, o “ficar” sem compromisso, etc. quando não o álcool e às drogas.

Tem sido muito comum em minha prática profissional, jovens recém-formados (dois ou três meses – fora os de 15/16 anos) com depressão por ainda não terem o primeiro emprego. Tinham a ilusão que, ao sair da faculdade o emprego viria até suas mãos, como tudo o foi na vida. Muitos dissabores poderiam ter sido evitados se os pais trabalhassem nos filhos o valor do autoesforço na busca de satisfação de suas necessidades e desejos. Isto não significa deixar de presenteá-los com o som ou o que seja, mas, fazê-lo na hora certa; significa dar-lhes o presente do elogio e do reconhecimento quando conseguirem algo e, de quebra a isto, a autoestima.

A superproteção tem-se refletido no humor deprimido dos jovens e, mais tarde poderá refletir na vida profissional, quando ele terá de esperar o fim do mês para receber o salário e que, se não fizer a sua parte este não virá. Terá de aprender na vida o que poderia ter aprendido aos poucos, em casa, com a família, com amorosidade: esperar, ser tolerante e também feliz. Quando o filho estiver triste, o melhor remédio é a conversa, o acolhimento e, mesmo com a depressão instalada, nem sempre o medicamento é o melhor remédio. Ele abre a porta para a busca da consciência entrar. Com a falta de tempo, ou a comodidade dos pais, esta atenção está sendo substituída pelo presente material, “para compensar”, para evitar que os filhos tenham “experiências aversivas”, e isto levará, certamente, a não resolução e a aceitação das emoções, à imaturidade e ao consumismo exagerado como forma de compensação pelo sofrer, que poderia só ser uma dor passageira.

É do esforço próprio que nasce a conquista, o prazer de vencer e a alegria de viver.

Regina Célia Dantas Gama
Texto publicado na edição 73 da Revista Vilas Magazine em Fevereiro de 2005.

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